O contato com as Neurociencias através dos grupos de Estudos do Projeto Plural, parceiro do CIPE, tem me motivado a escrever sobre os conceitos e idéias que venho discutindo. Este texto é um deles e foi escrito para um dos módulos do grupo de estudos, que previa um Relato de Experiência por parte de cada um dos integrantes. Como mediadora do módulo resolvi também fazer meu relato e ele resultou nestas idéias bem simples que pretendo aprofundar em breve e que partilho com vocês.
Se definirmos aprendizagem como a mudança na relação dos indivíduos com o meio, posso dizer então que minha escolha pela Psicologia como profissão não foi à toa. Pensando sob esta perspectiva, ela, a psicologia, possibilita-me o trabalho com a aprendizagem e a educação das mais diversas maneiras.
Com relação ao psicólogo escolar, sua atuação relacionada à aprendizagem parece, no geral, ser mais clara para as pessoas. Nestes casos, o papel do profissional é pensar juntamente com os professores e demais integrantes das equipes pedagógicas os processos de ensino-aprendizagem, elaborar projetos de trabalho para abordar temas transversais junto aos educandos e suas famílias, bem como auxiliar os professores nas reflexões sobre seu papel profissional. A ação do psicólogo na escola não deve ser clínica e deve acontecer muito preferencialmente nos bastidores.
O que a maioria das pessoas não sabe é que o psicólogo trabalha mais com educação e aprendizagem do que se imagina, já que esta não acontece apenas dentro da escola. Vou explicar brevemente minha colocação.
A atuação do psicólogo nas organizações, por exemplo, vai além do recrutamento e seleção do profissional; passa também pelo treinamento e desenvolvimento de pessoas. Treinar é elencar competências que se queiram desenvolver e traçar estratégias para que estas sejam adquiridas. Para isso, ele pode lançar mão de variadas abordagens e técnicas, assim como o professor em sala de aula. Cada empresa é única e possui uma demanda e universo subjetivo diferente. Um treinamento bem aplicado começa com um bom plano, assim como o plano de aula do professor. Em ambos são explicitados objetivos, público alvo, duração do trabalho, estratégias e formas de avaliação dos resultados.
O psicólogo que atua na saúde, por exemplo, costuma participar de grupos de orientação e prevenção, trabalho que chamados de psicoeducacional. Podem desenvolver projetos junto aos idosos, gestantes, obesos, diabéticos, hipertensos e tantos outros que neste momento fogem do meu conhecimento.
Na clínica, por exemplo, vocês imaginam como se dão os insights, as mudanças, a evolução do paciente? Será que existe algo de semelhante entre a aprendizagem que acontece dentro das escolas e a aprendizagem que acontece dentro do setting terapêutico? É possível usar a neurociência para explicar ou para corroborar tais mudanças?
Na psicoterapia, padrões de comportamento ou regras implícitas (que o indivíduo acaba criando para si mesmo) são explorados e refletidos. À medida que novos padrões são repetidos e se tornam hábito, podemos dizer que ocorreu aprendizagem e mudança terapêutica. Para Fleury, Khoury & Hug(2008), a mudança terapêutica inclui um processo de insight e a experiência emocional corretiva, que seria a exposição do paciente a situações emocionais mais favoráveis do que aquelas possíveis no passado, reparando as conseqüências das experiências traumáticas.
No caso do Psicodrama, o principal fator terapêutico e de aprendizagem é a experiência emocional corretiva, que se dá através da dramatização. Por meio dela, o paciente tem a oportunidade de “re-experienciar” de maneira catártica as emoções suprimidas e dar novo significado a elas. Sabemos que tais emoções não são re-vividas, pois, à medida que as acessamos em nossa memória, elas se modificam; entretanto ao dramatizar é importante que a carga afetiva seja a mais realista possível e que tenha a intensidade parecida ao que foi vivido primitivamente. No psicodrama a memória da experiência traumática não é apagada e sim se constrói uma nova. Fleury, Khoury e Hug (2008) afirmam que esta nova memória é tão forte quanto a memória primitiva, porém é positiva. Quando esta nova associação é formada, interrompe-se o circuito associativo que levava ao sintoma.
O conhecimento (ainda que momentaneamente restrito) da neurociência despertou-me o interesse em estudar e aprofundar ainda mais sua interface com a educação, com a psicologia e com o psicodrama, abordagem teórica e prática que orienta meu trabalho clínico e educacional. Acredito que tais estudos poderão lançar novos olhares sobre práticas pedagógicas e psicoterápicas, além de corroborar a eficácia do Psicodrama e suas técnicas na mudança terapêutica.
Referência Bibliográfica:FLEURY, H. J, KHOURY, G.S, HUG, E. Psicodrama e Neurociência. Contribuições para a Mudança terapêutica. São Paulo: Ágora, 2008.
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