terça-feira, 23 de novembro de 2010

I Fórum de Neurociências e Educação

Nos dias 10 e 11 de dezembro, Ribeirão Preto sediará o I Fórum de Neurociências e Educação, evento que reunirá profissionais e pesquisadores de diferentes áreas, com o objetivo de criar um ambiente que favoreça a discussão e troca de experiências em torno dos processos e problemas relacionados ao ensino e aprendizagem em sala de aula, bem como no ambiente da pesquisa científica.
As palestras abordarão temas de interface entre neurociências e educação, como aprendizagem, avaliação, divulgação científica, emoções, memória, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e artes. A Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto apresentará suas experiências no processo de ensino/aprendizagem e difusão científica em quase uma década de atividades com alunos da rede básica de ensino, professores e pesquisadores. Além disso, haverá participação de professores da Faculdade de Medicina e Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto e do Instituto de Física da USP de São Carlos que ministrarão uma série de palestras.
Durante o evento também será apresentado os resultados do Projeto Plural, grupo multidisciplinar que tem como objetivo criar uma rede de interação entre pesquisadores em neurociências, psicólogos, profissionais da educação e da saúde, alunos e seus familiares, promovendo discussões que tenham como foco as neurociências aplicadas à educação e suas consequências. Além de palestras e mesa redonda, o fórum promoverá vivência entre neurociências, arte e educação, com participação da Oficina Da Vinci (Neurociências e Artes Plásticas), exposição de trabalhos dos alunos do programa “Adote um Cientista” da Casa da Ciência, Grupo Verde, Projeto Plural, PEIC, Psicodrama e música ao vivo com o grupo Eletroeco.
O fórum é organizado pelo Projeto Plural, Casa da Ciência e Grupo Verde, com apoio da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Instituto de Neurociências e Comportamento (INeC), Hemocentro de Ribeirão Preto, Núcleo Távola, Centro Integrado de Psicologia e Educação (CIPE), Cooperação Interinstitucional de Apoio a Pesquisa sobre o Cérebro (CInAPCe), Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP e Oficina Da Vinci.
O evento é voltado aos profissionais da educação e saúde, alunos, graduandos, pesquisadores e demais interessados no tema. As inscrições já estão abertas e podem ser realizadas até 7 de dezembro.

Mais informações sobre a programação e inscrições no site do evento: http://pluralneuro.com.br/

Curso de Introdução ao Psicodrama

Lembram-se de que havia prometido colocar aqui mais informações sobre o curso de Introdução ao Psicodrama? Pois bem, aqui vão as informações:
Trata-se de um curso com carga horária de 16 horas que acontecerá nos dias 26, 27, 28 de novembro! Confira no site do NEP os detalhes e garanta já sua inscrição!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Aprendizagem e a Psicologia

O contato com as Neurociencias através dos grupos de Estudos do Projeto Plural, parceiro do CIPE, tem me motivado a escrever sobre os conceitos e idéias que venho discutindo. Este texto é um deles e foi escrito para um dos módulos do grupo de estudos, que previa um Relato de Experiência por parte de cada um dos integrantes. Como mediadora do módulo resolvi também fazer meu relato e ele resultou nestas idéias bem simples que pretendo aprofundar em breve e que partilho com vocês.



Se definirmos aprendizagem como a mudança na relação dos indivíduos com o meio, posso dizer então que minha escolha pela Psicologia como profissão não foi à toa. Pensando sob esta perspectiva, ela, a psicologia, possibilita-me o trabalho com a aprendizagem e a educação das mais diversas maneiras.

Com relação ao psicólogo escolar, sua atuação relacionada à aprendizagem parece, no geral, ser mais clara para as pessoas. Nestes casos, o papel do profissional é pensar juntamente com os professores e demais integrantes das equipes pedagógicas os processos de ensino-aprendizagem, elaborar projetos de trabalho para abordar temas transversais junto aos educandos e suas famílias, bem como auxiliar os professores nas reflexões sobre seu papel profissional. A ação do psicólogo na escola não deve ser clínica e deve acontecer muito preferencialmente nos bastidores.

O que a maioria das pessoas não sabe é que o psicólogo trabalha mais com educação e aprendizagem do que se imagina, já que esta não acontece apenas dentro da escola. Vou explicar brevemente minha colocação.

A atuação do psicólogo nas organizações, por exemplo, vai além do recrutamento e seleção do profissional; passa também pelo treinamento e desenvolvimento de pessoas. Treinar é elencar competências que se queiram desenvolver e traçar estratégias para que estas sejam adquiridas. Para isso, ele pode lançar mão de variadas abordagens e técnicas, assim como o professor em sala de aula. Cada empresa é única e possui uma demanda e universo subjetivo diferente. Um treinamento bem aplicado começa com um bom plano, assim como o plano de aula do professor. Em ambos são explicitados objetivos, público alvo, duração do trabalho, estratégias e formas de avaliação dos resultados.

O psicólogo que atua na saúde, por exemplo, costuma participar de grupos de orientação e prevenção, trabalho que chamados de psicoeducacional. Podem desenvolver projetos junto aos idosos, gestantes, obesos, diabéticos, hipertensos e tantos outros que neste momento fogem do meu conhecimento.

Na clínica, por exemplo, vocês imaginam como se dão os insights, as mudanças, a evolução do paciente? Será que existe algo de semelhante entre a aprendizagem que acontece dentro das escolas e a aprendizagem que acontece dentro do setting terapêutico? É possível usar a neurociência para explicar ou para corroborar tais mudanças?

Na psicoterapia, padrões de comportamento ou regras implícitas (que o indivíduo acaba criando para si mesmo) são explorados e refletidos. À medida que novos padrões são repetidos e se tornam hábito, podemos dizer que ocorreu aprendizagem e mudança terapêutica. Para Fleury, Khoury & Hug(2008), a mudança terapêutica inclui um processo de insight e a experiência emocional corretiva, que seria a exposição do paciente a situações emocionais mais favoráveis do que aquelas possíveis no passado, reparando as conseqüências das experiências traumáticas.

No caso do Psicodrama, o principal fator terapêutico e de aprendizagem é a experiência emocional corretiva, que se dá através da dramatização. Por meio dela, o paciente tem a oportunidade de “re-experienciar” de maneira catártica as emoções suprimidas e dar novo significado a elas. Sabemos que tais emoções não são re-vividas, pois, à medida que as acessamos em nossa memória, elas se modificam; entretanto ao dramatizar é importante que a carga afetiva seja a mais realista possível e que tenha a intensidade parecida ao que foi vivido primitivamente. No psicodrama a memória da experiência traumática não é apagada e sim se constrói uma nova. Fleury, Khoury e Hug (2008) afirmam que esta nova memória é tão forte quanto a memória primitiva, porém é positiva. Quando esta nova associação é formada, interrompe-se o circuito associativo que levava ao sintoma.

O conhecimento (ainda que momentaneamente restrito) da neurociência despertou-me o interesse em estudar e aprofundar ainda mais sua interface com a educação, com a psicologia e com o psicodrama, abordagem teórica e prática que orienta meu trabalho clínico e educacional. Acredito que tais estudos poderão lançar novos olhares sobre práticas pedagógicas e psicoterápicas, além de corroborar a eficácia do Psicodrama e suas técnicas na mudança terapêutica.



Referência Bibliográfica:FLEURY, H. J, KHOURY, G.S, HUG, E. Psicodrama e Neurociência. Contribuições para a Mudança terapêutica. São Paulo: Ágora, 2008.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DIAGNÓSTICOS X EDUCAÇÃO

Semana passada (dias 11, 12 e 13 de novembro), participei do "1º Seminário Internacional Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e outros supostos transtornos", evento promovido pelo CRP-SP (Conselho Regional de Psicologia de São Paulo).
No evento, entre os diversos assuntos abordados, a questão da banalização dos diagnósticos que envolvem "dificuldades de aprendizagem" foi muito discutida. Em sua fala, Rosely Saião partilhou um texto muito interessante para refletirmos sobre o tema. Quantas vezes o diagnóstico estigmatiza uma criança que tem problemas para aprender? As diferenças individuais para aprender existem: dentro da curva normal do desenvolvimento existem aquelas que aprendem com muita facilidade e aquelas que aprendem com muita dificuldade. Por outro lado há aquelas crianças com reais problemas médicos que influenciam a aprendizagem, porém estes são a excessão e não a regra.
Cabe a nós educadores e profissionais da saúde ficarmos atentos ao "poder" que nos é delegado ao "avaliar" uma criança.O laudo muitas vezes acaba reduzindo as possibilidades da criança e por isso pode ser muito perigoso. É fundamental levar em consideração todas as variáveis que possam interferir nas dificuldades, ainda que isso implique  questionar a eficácia de nossa própria pratica profissional.
Como psicóloga escolar tenho buscado me posicionar quanto às dificuldades dos inúmeros alunos com quem tenho trabalhado. Já tive contato com visões bastante diferentes, que vão do extremo da medicalização ao extremo da sociologização das dificuldades de aprendizagem. Certezas quanto ao assunto há poucas, principalmente porque as pesquisas em neurociências que se dedicam a investigar o TDAH e a Dislexia, por exemplo, ainda são incipientes.
Vivemos um momento em que deve prevalecer o bom senso. Não há conduta que seja geral e funcione para todas as crianças, principalmente quando elas envolvem o uso de medicação. Quanto mais abrangente for a investigação acerca das dificuldades da criança, tanto maior a chance de chegar ao cerne da questão, seja ela de origem biológica, afetiva,social ou multideterminada.

Vale a pena ler o texto a seguir e pensar um pouco mais sobre o assunto! Quem tiver alguma contribuição a dar e só se manifestar.
Até breve!



DISBICICLÉTICO

Emilio Ruiz Rodriguez Psicólogo na Fundação Down Cantabria, na Espanha



Dani é uma criança que não sabe andar de bicicleta. Todas as outras crianças do seu bairro já andam de bicicleta; os da sua escola já andam de bicicleta; os da sua idade já andam de bicicleta. Foi chamado um psicólogo para que estude seu caso.

Fez uma investigação, realizou alguns testes (coordenação motora,força, equilíbrio e muitos outros; falou com seus pais, com seus professores, com seus vizinhos e com seus colegas de classe) e chegou a uma conclusão: esta criança tem um problema, tem dificuldades para andar de bicicleta. Dani é disbiciclético.

Agora podemos ficar tranqüilos, pois já temos um diagnóstico. Agora temos a explicação: o garoto não anda de bicicleta porque é disbiciclético e é disbiciclético porque não anda de bicicleta. Um círculo vicioso tranqüilizador.

Pesquisando no dicionário, diríamos que estamos diante de uma tautologia, uma definição circular. “Por qué la adormidera duerme? La adormidera duerme porque tiene poder dormitivo”. Pouco importa, porque o diagnóstico, a classificação, exime de responsabilidade aqueles que rodeiam Dani. Todo o peso passa para as costas da criança. Pouco podemos fazer. O garoto é disbiciclético! O problema é dele. A culpa é dele. Nasceu assim. O que podemos fazer?

Pouco importa se na casa de Dani seus pais não tivessem tempo para compartilhar com ele, ensinando-o a andar de bicicleta. Porque para aprender a andar de bicicleta é necessário tempo e auxílio de outras pessoas.

Pouco importa que não tenham colocado rodinhas auxiliares ao começar a andar de bicicleta. Porque é preciso ajuda e adaptações quando se está começando. Pouco importa que não haja, nas redondezas de sua casa, clubes esportivos com ciclistas com quem ele pudesse se relacionar, ou amigos ciclistas no bairro que o motivassem. Porque, para aprender a andar de bicicleta não pode faltar motivação e vontade de aprender. E pessoas que incentivem!

Pouco importa, enfim, que o garoto não tivesse bicicleta porque seus pais não puderam comprá-la. Porque para aprender a andar de bicicleta é preciso uma bicicleta. (Felizmente, os pais de Dani,prevendo a possibilidade de seu filho ser disbiciclético, preferiram não comprar uma bicicleta até consultar um psicólogo.)

Transportando este exemplo para o campo da síndrome de Down, o processo é semelhante. Desde quando a criança é muito pequena,apenas um recém-nascido, é feito um diagnóstico – trissomia do cromossomo 21 – por um médico especialista, e verificado, com uma prova científica, o cariótipo. A partir disso, entramos em um círculo vicioso no qual os problemas justificam o diagnóstico, o qual, por sua vez, é justificado pelos problemas.

Por que a criança não cumprimenta, não diz bom-dia quando chega, nem adeus quando vai embora? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Achei que era mal-educada.

Por que a criança não se veste sozinha, e sua mãe a veste e despe todos os dias, se já tem oito anos? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe tinham ensinado.

Por que continua a tomar mamadeiras se já tem seis anos? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Imaginei que era comodismo de seus pais.

Por que a criança não sabe ler? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe haviam ensinado.

Por que não anda de ônibus ? “É que ela tem síndrome de Down”. Ah, bom! Pensei que não lhe permitiam fazer isso.

E, assim, uma lista interminável de supostas dificuldades que, por estarem justificadas pela síndrome de Down, não necessitam de nenhuma intervenção, além da resignação. Todas as suas dificuldades se devem à síndrome de Down.

Podemos estender a qualquer outra deficiência em que o diagnóstico médico ou psicológico possa ser utilizado como desculpa para nos eximirmos de responsabilidades. Se classificamos a criança como disfásica, disléxica, discalcúlica, disgráfica, deficiente visual ou auditiva, mental ou motora, disártrica ou simplesmente disbiciclética, estamos fazendo algo mais do que “colocar um nome” no que pode acontecer com uma criança. Estamos criando expectativas naqueles que a cercam.

Por isso, eu sugiro que antes de comprar uma bicicleta para seu filho ou sua filha, comprove que não sejam disbicicléticos. Vá que aconteça imediatamente após a compra dar-se conta de que se jogou dinheiro fora?