quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quais os benefícios da Psicoterapia?

"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei
no lugar dos meus.
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."

J.L.Moreno, criador do Psicodrama.



Por Luciana Stoppa dos Santos

Uma das possibilidades de trabalho do psicólogo é a psicoterapia, que tem origem nas palavras gregas psykhē -psique, alma, mente, e therapeuein - cuidar, curar. Podemos afirmar então que a psicoterapia é um processo de “tratamento”, de cuidado da alma. Nele, terapeuta e paciente refletem sobre padrões de comportamento e funcionamento mental dos indivíduos com o objetivo de promover a mudança terapêutica. A evolução do paciente (ou mudança terapêutica) acontece quando ele dá novo significado às vivências, reparando as conseqüências das experiências negativas por meio da exposição a situações emocionais mais favoráveis àquelas vividas no passado e que produziram registros traumáticos.

Mas o que leva uma pessoa a buscar psicoterapia?

Situações vividas ao longo da vida mobilizam questionamentos relacionados a valores, crenças e comportamentos que compõem nosso Conceito de Identidade. Trata-se de uma construção consciente e individual, que permite o desenvolvimento de uma imagem aceitável de si mesmo, dos outros e da realidade. Contudo, na maioria das vezes, este Conceito não corresponde à verdade sobre nós mesmos, pois há uma série de sensações, sentimentos e percepções que permanecem inconscientes, mas que ainda assim exercem influência sobre as atitudes e comportamentos. É do choque das “verdades” construídas com as “verdades” escancaradas pela vida que surge a angústia, sentimento de ser ou estar “incompleto”, que por sua vez origina o “processo de busca”, elemento fundamental para a psicoterapia. Este processo surge do nosso universo de relações: família, escola, trabalho, religião ou outros grupos sociais aos quais pertencemos.

Com relação à angústia, esta pode se manifestar em maior ou menor intensidade, e o paciente, por sua vez, pode ter maior ou menor condição de dar continência a ela,  o que caracterizará o tipo de comprometimento na saúde mental. Sentir angústia, ao contrário do que pode parecer, é positivo e todos podemos senti-la em algum momento de nossas vidas, o que não significa que estamos doentes. Angustiar-se exprime a capacidade de ressignificar a existência e isso pode ser feito através da psicoterapia.

A psicoterapia utiliza recursos e conhecimentos oriundos da psicologia e pode englobar diferentes linhas teóricas como a psicanálise, a psicoterapia cognitivo- comportamental, o psicodrama entre outras. O psicodrama, referencial teórico que utilizo em meu trabalho, mobiliza o cliente para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis.

O processo psicoterapêutico é uma construção partilhada entre terapeuta e paciente. Ao profissional cabe o preparo técnico, teórico e humano que respaldará seu trabalho e ao paciente o envolvimento genuíno com o processo de busca. Além de tratamento, psicoterapia é autoconhecimento. Sejam bem vindos todos aqueles que estiverem dispostos a abrir caminhos em suas próprias almas!

Os Direitos das Famílias...

1.O direito de sentir emoções intensas
2. O direito de procurar outra opinião
3. O direito de continuar a tentar

4. O direito de desistir
5. O direito à privacidade

6. O direito de ser uma família

7. O direito de não ser entusiasta

8. O direito de se sentir cansada da criança

9. O direito de ter tempo livre

10. O direito a ser quem melhor conhece a criança

11. O direito de estabelecer os limites

12. O direito à dignidade
 
Raver & Kilgo, 1991



Traduzido pelo Projecto Integrado de Intervenção Precoce – Distrito de Coimbra


anip.sede@iol.pt
piip.coimbra@mail.telepac.pt
http://www.esec.pt/anip

terça-feira, 12 de julho de 2011

A droga da Obediência


Olá leitor...companheiro psicólogo, pai, educador ou profissional da saúde: vale a pena ler esta matéria publicada na Revista Caros Amigos em 20 de fevereiro de 2011. A médica pediatra da UNICAMP, Maria Aparecida Afonso Moysés, parceira do Conselho Regional de Psicologia contra a Medicalização da Sociedade faz um alerta sobre a banalização do uso do metilfenidato como "tratamento para os problemas de atenção". Considero de extrema importância que nós psicólogos clínicos e escolares estejamos alertas para não referendar práticas patologizantes... Confira!


Por Lívia Perozim 
O Brasil é o segundo maior consumidor mundial dos psicotrópicos chamados metilfenidatos, prescritos para o tratamento de crianças diagnosticadas como portadoras do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Atrás apenas dos Estados Unidos, consumimos, em 2009, 2 milhões de caixas, ante as 70 mil consumidas em 2000. A droga, usada para tratar do que é considerado um distúrbio neurobiológico, é consumida, entre outros, por crianças e adolescentes desatentos, agitados e com dificuldades escolares. Apelidado de a “droga da obediência”, por acalmar e focar a atenção, o medicamento leva os sugestivos nomes de Concerta e Ritalina (produzidos pelos laboratórios Janssen Cilag e Novartis, respectivamente). Seu uso, no entanto, provoca acaloradas discussões. A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, da Unicamp, é uma das vozes médicas a questionar a existência de “uma doença neurológica que só altere comportamento e aprendizagem”. Nessa entrevista, ela explica as reações adversas da droga e afirma que os critérios para diagnosticar o TDAH são normas sociais.
Carta Fundamental: O consumo de metilfenidatos no Brasil foi de 70 mil, em 2000, para 2 milhões de caixas, em 2009. A que a senhora atribui esse aumento?
Maria Aparecida Affonso Moysés: 
Outro dado é que o Brasil só perde para os Estados Unidos no consumo dessa droga, o que é assustador, porque este não é um medicamento seguro. O metilfenidato tem várias reações adversas. E veja só: não são efeitos colaterais, são reações adversas e indicam a retirada imediata da droga.
CF: Que tipo de reação?
MAAM: 
No sistema nervoso causa insônia, cefaleia, alucinações, psicose, suicídio e o principal efeito chamado de Zumbi Like. Significa agir como um zumbi, ou seja, a pessoa fica quimicamente contida em si mesma. Todos esses são sinais de toxicidade e indicam a retirada imediata da droga. No sistema cardiovascular o remédio causa arritmia, taquicardia, hipertensão, parada cardíaca. O risco de morte súbita inexplicada em adolescente é estimado em 10 a 14 vezes maior entre aqueles que tomam o remédio, segundo uma pesquisa de 2009 da Food and Drugs Administration (FDA) e de National Institute of Mental Health (NIMH). Não é desprezível. Além disso, interfere no sistema endócrino, na secreção dos hormônios de crescimento e dos sexuais. É uma substância com o mesmo mecanismo de ação e as mesmas reações adversas da cocaína e das anfetaminas.
CF: O metilfenidato é um estimulante usado para acalmar?
MAAM:
 Ele acalma pelo efeito zumbi, uma toxicidade. Uma coisa que não se pensa muito é o seguinte: o metilfenidato foca a atenção em quê? É aleatório. Ao conter as atividades cerebrais de tal modo que você não se distraia, esta única coisa em foco é eleita ao acaso. É o que passa pela frente. Não é uma substância que te faz focar no estudo. Não existe isso.
CF: O Brasil perde apenas para os EUA no consumo de metilfenidatos. O que aproxima as sociedades médicas desses países?
MAAM:
 A sociedade médica brasileira, há 50 anos, era voltada para a França. Hoje é voltada para os EUA. É quase mundial isso, mas na Europa ainda há uma resistência. Somos muito dependentes da tecnologia e da cultura americana, que impõe essa padronização e normalização das pessoas. A gente constrói uma sociedade que quer uma criança cada vez mais ativa e ligada no mundo. Crianças com 4 anos mexem no computador com várias janelas abertas ao mesmo tempo. Quando elas chegam na escola, queremos que elas façam uma coisa só e não questionem. Queremos crianças criativas, ótimas e submissas! Elas questionam, querem saber o porquê. O “não” não basta mais. E os adultos não aguentam isso. A sociedade é muito incomodada com os questionamentos e a gente acaba abafando isso via substância química. Junte isso ao interesse financeiro das indústrias farmacêuticas. Elas financiam cursos, viagens para médicos, vantagens em clínicas. Curso para professores financiado por um laboratório é algo estranho. Não sejamos ingênuos: eles estão, na verdade, treinando professores para identificar futuros clientes consumidores de suas drogas. E esse é um peso muito forte, que consta, inclusive, em relatório do departamento de justiça dos EUA, mostrando como a Ciba-Geigy (Laboratório que viria, a partir de 1996, a formar a Novartis) – financiava entidades de familiares e profissionais ligados à defesa das pessoas com TDAH.
CF: Quais os efeitos desses psicotrópicos quando tomados por longo período?
MAAM: Isso consta em qualquer livro de farmacologia. Vários trabalhos mostram que existe um risco de dependência química muito grande, além de uma dependência psíquica, porque a pessoa se sente mais ativa mesmo. E tem várias pesquisas mostrando que, quando a criança começa a tomar aos 4 anos e retiram o remédio aos 18, existe uma tendência muito grande de drogadição por substância mais pesadas. Se a criança está usando um estimulante desde os 5, 6 anos, ela vai buscar outra droga quando interrompe este uso. No mundo todo, clínicas relatam que metade dos adolescentes conta que começaram a drogadição e a mantém com ritalina. E a fala desses adolescentes é que eles começaram a usar porque é barato, acessível, fácil de comprar, embora tenha receita controlada. Segundo eles, os médicos diziam que era seguro. Como dizem até hoje. Mas não é uma droga segura.
CF: A discordância não é só quanto ao uso ou não da medicação, mas quanto à existência do próprio transtorno.
MAAM: 
A discordância básica é que não existe uma comprovação aceita de que haja uma doença neurológica que só altere comportamento e aprendizagem. Isso ainda não foi provado. A lógica da medicina é comprovar a doença e depois tratar. Para essa, o remédio foi encontrado antes.
CF: A comprovação seria se encaixar nos critérios do questionário Snap-IV.
MAAM: Aqueles critérios são altamente questionáveis. Aquilo não é critério de doença, é norma social. Como posso transformar uma norma social em biológica? O Snap-IV contém 18 perguntas, e as primeiras nove falam de atenção, e as outras, de hiperatividade. Se você preencher seis das perguntas, tem o diagnóstico de déficit de atenção, hiperatividade ou dos dois. Todas as questões falam de comportamento. Só com base nisso afirmam a presença de uma doença neurológica?
CF: A partir de que idade uma criança pode ser diagnosticada?
MAAM: 
Há relatos na medicina americana de crianças de 2 anos que teriam dislexia quando entrassem na escola. Como identificar que alguém vai ter dificuldades de ler e escrever aos 2 anos?
CF: Quem defende o uso da medicação argumenta que apenas seu uso incorreto não é seguro e que a criança que não é diagnosticada sofre.
MAAM: 
Sofre por causa da sociedade. Eu quero trabalhar o conflito que ela está vivendo e libertá-la desse conflito e de uma doença que ela não tem. É preciso entender isso até para poder superar e enfrentar. Agora, quando digo você é doente vou te dar um remédio, os pais ficam aliviados porque, enfim, encontram o problema e podem tratar o filho. Esse é o sonho de todo pai. Mas eles estão iludidos porque essa criança, na verdade, não está sendo tratada. Ela está introjetando ser doente, ter algum problema e tudo o que ela conseguir na vida vai ser porque foi tratada. É totalmente desconsiderada em que situação isso é produzido. Porque os problemas de aprendizagem são todos produzidos.
CF: O rendimento na escola das crianças medicadas melhora.
MAAM: 
É preciso provar que foi a droga porque se inicia um trabalho pedagógico com a criança, afirma-se que ela está doente, que está sendo tratada, a professora vai ensinar de um modo diferente, ela vai acreditar que pode aprender. A revisão dos trabalhos publicados que preenchem todos os requisitos de pesquisa científica mostra que não há melhora consistente do desempenho acadêmico. Esta é, inclusive, a conclusão de uma reunião feita nos EUA para estabelecer consensos para o diagnóstico e tratamento.



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