E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei
no lugar dos meus.
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."
J.L.Moreno, criador do Psicodrama.
Por Luciana Stoppa dos Santos
Uma das possibilidades de trabalho do psicólogo é a psicoterapia, que tem origem nas palavras gregas psykhē -psique, alma, mente, e therapeuein - cuidar, curar. Podemos afirmar então que a psicoterapia é um processo de “tratamento”, de cuidado da alma. Nele, terapeuta e paciente refletem sobre padrões de comportamento e funcionamento mental dos indivíduos com o objetivo de promover a mudança terapêutica. A evolução do paciente (ou mudança terapêutica) acontece quando ele dá novo significado às vivências, reparando as conseqüências das experiências negativas por meio da exposição a situações emocionais mais favoráveis àquelas vividas no passado e que produziram registros traumáticos.
Mas o que leva uma pessoa a buscar psicoterapia?
Situações vividas ao longo da vida mobilizam questionamentos relacionados a valores, crenças e comportamentos que compõem nosso Conceito de Identidade. Trata-se de uma construção consciente e individual, que permite o desenvolvimento de uma imagem aceitável de si mesmo, dos outros e da realidade. Contudo, na maioria das vezes, este Conceito não corresponde à verdade sobre nós mesmos, pois há uma série de sensações, sentimentos e percepções que permanecem inconscientes, mas que ainda assim exercem influência sobre as atitudes e comportamentos. É do choque das “verdades” construídas com as “verdades” escancaradas pela vida que surge a angústia, sentimento de ser ou estar “incompleto”, que por sua vez origina o “processo de busca”, elemento fundamental para a psicoterapia. Este processo surge do nosso universo de relações: família, escola, trabalho, religião ou outros grupos sociais aos quais pertencemos.
Com relação à angústia, esta pode se manifestar em maior ou menor intensidade, e o paciente, por sua vez, pode ter maior ou menor condição de dar continência a ela, o que caracterizará o tipo de comprometimento na saúde mental. Sentir angústia, ao contrário do que pode parecer, é positivo e todos podemos senti-la em algum momento de nossas vidas, o que não significa que estamos doentes. Angustiar-se exprime a capacidade de ressignificar a existência e isso pode ser feito através da psicoterapia.
A psicoterapia utiliza recursos e conhecimentos oriundos da psicologia e pode englobar diferentes linhas teóricas como a psicanálise, a psicoterapia cognitivo- comportamental, o psicodrama entre outras. O psicodrama, referencial teórico que utilizo em meu trabalho, mobiliza o cliente para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis.
O processo psicoterapêutico é uma construção partilhada entre terapeuta e paciente. Ao profissional cabe o preparo técnico, teórico e humano que respaldará seu trabalho e ao paciente o envolvimento genuíno com o processo de busca. Além de tratamento, psicoterapia é autoconhecimento. Sejam bem vindos todos aqueles que estiverem dispostos a abrir caminhos em suas próprias almas!